Durante todo esse tempo de pandemia, se você não migrou para uma cidade do interior com certeza conhece alguém que fez esse tipo de mudança. A alteração no estilo de vida causada pelo coronavírus tem levado muitas pessoas a buscarem de maneira temporária ou definitiva mais qualidade de vida e contato com a natureza, saindo de grandes centros urbanos.
Um dos fatores que tem contribuído para essa mudança é a adoção do home office. Pesquisa da FEA-USP demonstra que 70% dos brasileiros gostariam de continuar trabalhando de casa e 11% foram indiferentes, ou seja, essa demanda continuará existindo.
Os motivos citados no estudo para a virada de rumo e saída dos grandes centros são já bastante conhecidos: violência urbana, poluição e mobilidade bastante comprometida.
Pelo lado das empresas, a pesquisa demonstra que 30% das empresas consultadas irão manter totalmente o home office, outra boa parte manterá regime híbrido, indicando que a oferta de trabalho em casa veio para ficar.
Home office = economia local dinâmica = mais consumo
Uma característica importante desse movimento, do ponto de vista social, é que ele é mais possível de ser feito por uma classe social mais alta, que possui trabalhos melhores remunerados que a média.
Além disso, são profissões que exigem maior escolaridade e possuem forte utilização de tecnologia. Então, um primeiro impacto imediato é a dinamização da economia local, com mais consumo.
Esse movimento também não é feito de maneira isolada pelo trabalhador em home office. Normalmente a família inteira embarca nessa migração, o que nos permite pensar numa escala ainda maior de pessoas se mudando.
Uma nova população interiorana
Para além das mudanças do ponto de vista dos costumes, podemos observar também dentro desse cenário um impacto nas microrregiões que agora recebem uma nova população.
Entre os resultados estão: novos costumes sociais, novos métodos de trabalho, maior participação social e um nível de crítica social e cobrança ao poder público que cidades pequenas e médias, não estão acostumadas a lidar.
Ainda podemos esperar nessas cidades novas dinâmicas econômicas. Empreendedores podem levar a cidades pequenas e médias serviços que vinham prestando em grandes metrópoles, novas ideias de negócio podem chegar aos territórios e as demandas ao serviço público podem pressionar prefeituras a melhorar seus serviços, ou serem mais transparentes.
A era do localismo: surge um novo tipo de consumidor
Esse êxodo para o interior tem gerado um novo tipo de consumidor e as marcas, antes preocupadas apenas com os grandes centros urbanos, agora precisam pensar também em estratégias para as pequenas cidades.
Esse nosso grupo de consumidores é formado por pessoas desesperadas para redefinir o ciclo global de agendas cheias e compromissos profissionais frenéticos. Composto principalmente de Millennials e pessoas da Geração X, esse grupo quer fincar raízes em suas comunidades, mas não em suas carreiras, inaugurando uma nova era do localismo.
Como as empresas devem se preparar para atender um grupo que estabelece limites entre a vida pessoal e profissional, e que quer investir na economia circular dentro das suas comunidades locais?
Estratégias de engajamento
Invista no comércio social hiperlocal
O comércio social de venda peer-to-peer (P2P) continuará atraindo os comunitários, que priorizam as lojas locais e a nova economia circular. Ao optar por comprar diretamente de outras pessoas, os comunitários conseguem perceber o impacto direto que esse tipo de investimento tem na comunidade.
Desafio atual
Marcas tradicionais, institucionais e varejistas continuarão perdendo mercado para negócios locais e plataformas de compra voltadas à comunidade.
Oportunidade para 2022
Identifique plataformas de comércio social e invista nas parcerias estratégicas que melhor se alinhem aos seus produtos. Comece aos poucos e veja o que está funcionando antes de investir pesado.. Muitas pessoas estão usando o comércio social hiperlocal para complementar a renda durante a quarentena. Esse tipo de comportamento deverá se manter por algum tempo.
Cases de sucesso
Storr
Com mais de 30.000 revendedores nos EUA que comercializam 175 marcas, a plataforma Storr continua crescendo. A empresa cuida de toda a parte logística, incluindo envios, devoluções e pagamentos. Os vendedores recebem até 30% em comissões e podem doar uma parte para instituições de caridade.
MyBeautyBrand
No Reino Unido, a plataforma de venda P2P MyBeautyBrand estimula o usuário a “inspirar a comunidade e ganhar uma comissão”. Criada como um antídoto aos influenciadores, ela permite que Millennials e pessoas da Geração Z expressem ideais de beleza e compartilhem seus produtos favoritos em troca de uma comissão sobre tudo o que conseguirem vender.
Meesho e Bulbul.tv
Na Índia, onde a venda P2P está em alta, a plataforma Meesho abre espaço para mais de um milhão de pequenos empreendedores. Os usuários montam as suas “lojas”, incluem produtos de diversos varejistas e recebem uma comissão mensal. Já a Bulbul.tv antecipa o futuro dessa modalidade de vendas: mistura de TikTok com e-commerce, a plataforma permite às pessoas transmitirem vídeos ao vivo (livestream) e realizarem vendas para a comunidade local.
O interior não é inferior
Em países como EUA, China, Austrália e Brasil, cidades fora dos tradicionais eixos metropolitanos se transformam em novos centros urbanos, gerando impacto econômico e contribuindo com o PIB nacional. As empresas mais antenadas já estão focando nesse tipo de cidade, já que os mercados onde geralmente atuam estão cada vez mais saturados.
Desafio atual
Na era Amazon, diversos varejistas estão tendo dificuldades para lidar com questões de logística e abastecimento fora dos centros urbanos tradicionais.
Oportunidade para 2022
Marcas e varejistas grandes precisam investir em estratégias de micro abastecimento para atrair os comunitários, que preferem apoiar as lojas locais. Um comércio unificado permitirá aos varejistas identificarem brechas no mercado e ajustarem o produto de acordo. E já que 88% dos consumidores se mostram dispostos a pagar mais para receber os pedidos no mesmo dia, essa é uma prioridade-chave.
Cases de sucesso
Target
A Target está adotando estratégias de micro abastecimento recriando cerca de 300 lojas por ano para acelerar as entregas. No primeiro trimestre de 2019, as lojas da empresa se encarregaram de 80% do volume de transações digitais, incluindo coleta, transporte, entrega no mesmo dia e envios.
Uniqlo
A Uniqlo está agora usando dados coletados em seus canais de varejo digital para determinar os locais de abertura de novas lojas físicas em mercados emergentes na China. A marca planeja abrir 1000 novas lojas até 2022, principalmente na região Oeste do país. A Uniqlo também investiu pesado no aprimoramento das suas operações digitais na China, desenvolvendo a sua flagship na plataforma Tmall e lançando um miniaplicativo no WeChat em 2018 para marcar presença fora das metrópoles, onde não tem lojas físicas.
Kohl’s
O serviço Amazon Returns está disponível em mais de 1100 filiais da Kohl’s nos EUA. O cliente vai até uma das lojas e faz a devolução do que comprou na Amazon, de graça e sem caixas ou etiquetas. Depois, a própria Kohl’s cuida da embalagem e do envio às centrais da Amazon
Comércio calmo
A ascensão do mercado de emoções (produtos e serviços pensados para o modo como nos sentimos) é tendência forte para 2022 e esse deve continuar sendo um elemento essencial para estimular as vendas. A pandemia ampliou a importância dessa estratégia, já que consumidores do mundo todo estão buscando produtos que ofereçam um alívio para as incertezas diárias.
Desafio atual
Os estabilizadores continuam priorizando as experiências zen nas lojas físicas, interessados em produtos que reduzam o estresse e a ansiedade.
Oportunidade para 2022
A necessidade de um comércio calmo transcende os segmentos de moda e beleza, já que muitos consumidores querem uma experiência tranquila mesmo em suas compras do dia a dia. Instituições financeiras, supermercados e consultórios médicos devem investir nessa estratégia.
Cases de sucesso
Showroom da Eath Library
Tradição e modernidade se encontram no showroom da Eath Library, em Seul. No espaço, a marca de beleza e skincare oferece chá e iluminação natural, estimulando os clientes a relaxarem antes de conhecer os produtos.
Consum
A rede espanhola de supermercados Consum criou ano passado uma loja voltada ao comércio calmo. O teto é projetado para diminuir o barulho, os displays luminosos foram substituídos por sinalizações discretas no chão e as prateleiras são mais baixas para dar mais conforto aos clientes.
Higo Bank
Mesmo os serviços financeiros estão se esforçando para criar um ambiente calmo. No Japão, o Higo Bank transformou a atmosfera tipicamente fria dos bancos em um santuário acolhedor com móveis reciclados, janelas que vão do chão ao teto e áreas confortáveis onde os clientes podem se sentar.